
João Brum Silveira é o novo Coordenador Nacional da iniciativa Stent Save a Life (SSL), em Portugal, promovida pela APIC. Em entrevista, o especialista e cardiologista, explica quais são os principais objetivos propostos para a campanha SSL, no sentido de passar as principais mensagens à população.
É o novo coordenador da Campanha SSL. Quais os principais objetivos a que se propõe, no sentido de passar as principais mensagens desta campanha à população?
João Brum Silveira (JBS) – Assumo este desafio com grande orgulho e responsabilidade, e com o principal objetivo de consciencializar a população, em geral, e as pessoas que apresentam fatores de risco, em particular, para a valorização dos sintomas do enfarte agudo do miocárdio (dor no peito, suores, náuseas, vómitos, falta de ar e ansiedade), e para a importância de que na presença desses sintomas, liguem de imediato para o número de emergência médica – 112 – para que possam ser encaminhadas para um hospital com capacidade de realizar o tratamento mais adequado, a angioplastia primária, dentro do tempo recomendado.
Para conseguirmos levar estas mensagens a um maior número de pessoas vamos continuar a apostar na campanha Cada Segundo Conta, que tem o Alto patrocínio do Presidente da República, e na implementação de iniciativas que nos permitam estar mais próximos da comunidade.
Quais são exatamente os objetivos da SSL?
JBS – A nossa prioridade no Stent Save a Life é contribuir para diminuir o risco de mortalidade por enfarte agudo do miocárdio, a sua reincidência e as complicações associadas. Para que isso possa acontecer estamos certos de que é necessário promover o conhecimento e compreensão sobre o enfarte agudo do miocárdio e os seus sintomas; alertar para a importância do diagnóstico atempado e tratamento precoce; e incentivar a prevenção desta doença.
A par das iniciativas junto da comunidade, o Stent Save a Life tem também um importante papel na formação de profissionais de saúde, nomeadamente os que integram o Serviço de Urgência hospitalar como os Internos e Especialistas de Medicina Interna, Medicina Intensiva e Emergência Médica; e os profissionais da emergência pré-hospitalar (médicos e enfermeiros do INEM). Nesse sentido, promovemos regularmente cursos avançados em gestão pré-hospitalar e intra-hospitalar precoce do enfarte agudo do miocárdio (cursos STEMINEM e STEMICARE).
No seu entender, quais são as principais dificuldades no que respeita a esta questão da literacia para a saúde da população em geral, sobretudo no que respeita ao enfarte agudo do miocárdio?
JBS – A meu ver, a principal dificuldade passa pela desvalorização dos sintomas do enfarte agudo do miocárdio, e, em alguns casos, pela confusão entre os sintomas do enfarte e os do acidente vascular cerebral. Os dados que dispomos dizem-nos, por exemplo, que mais de dois terços da população portuguesa não conhece quais são os sintomas do enfarte agudo do miocárdio ou como se devem comportar na presença de sintomas, e por isso, temos de continuar a apostar em campanhas que promovam a literacia para a saúde cardiovascular.
Pretende manter todas as iniciativas que têm sido levadas a cabo, no âmbito desta campanha SSL? Porquê?
JBS – Portugal tem sido referido como um exemplo europeu na implementação desta iniciativa e assim desejamos continuar. Fruto de um trabalho em equipa, esperamos com a iniciativa Stent Save a Life melhorar a prestação de cuidados médicos ao doente com enfarte e o seu acesso ao tratamento mais adequado.
Ao nível da comunidade, pretendemos desenvolver campanhas de prevenção que possam chegar a públicos específicos, como as mulheres ou os jovens, com mensagens direcionadas que lhes permitam uma maior identificação no sentido de desenvolverem comportamentos mais saudáveis e protetores da saúde cardiovascular. Neste campo, acreditamos que o estabelecimento de parcerias com as Associações de Doentes já existentes poderá ser uma estratégia a adotar para alcançar os nossos objetivos.
Além das campanhas de consciencialização, os nossos esforços vão concentrar-se também nas ações que visem melhorar a articulação entre todos os agentes de saúde mobilizados na resposta ao enfarte, envolvendo os vários hospitais referenciadores em Portugal e as diferentes entidades de saúde.
Queremos também reforçar a nossa parceria com o INEM por forma a aumentar a nossa colaboração entre as suas equipas e os cardiologistas de intervenção, quer ao nível da formação, mas também na melhoria do funcionamento logístico da rede de referenciação da Via Verde Coronária, e na elaboração de protocolos de atuação pré-hospitalar.
Vamos também continuar a investir na colaboração com os cuidados de saúde primários, o primeiro nível de acesso dos doentes, na disponibilização de informação sobre o enfarte agudo do miocárdio, e esperamos desenvolver iniciativas formativas neste sentido.
No próximo ano, a reabilitação cardíaca será certamente um tópico que queremos aprofundar, já que o tratamento do enfarte vai muito além do laboratório de hemodinâmica e é importante motivar e mobilizar as equipas multidisciplinares que são adaptadas a cada doente.
Encontraremos também estratégias para aumentar o número de doentes que possam beneficiar da angioplastia primária em tempo adequado e em qualquer hora do dia. Queremos promover o debate e ver discutida a situação do interior do país e daquelas cidades que por falta de meios ágeis de evacuação dos doentes, têm menor possibilidade de efetuar em tempo útil a angioplastia primária, já que se encontram a uma distância maior dos centros de Cardiologia de Intervenção atualmente existentes.
Que conselhos deixa aos portugueses, para que mantenham a saúde do coração e previnam o enfarte agudo do miocárdio?
JBS – A alteração dos estilos de vida é uma medida urgente: não fumar, reduzir o consumo de gorduras, açúcar e sal, evitar o consumo de bebidas alcoólicas, praticar exercício físico regularmente, controlar a tensão arterial, o colesterol e a diabetes, vigiar o peso e evitar o stress.