“O encerramento de FOP com sutura é um tratamento inovador com várias vantagens” – Entrevista a João Carlos Silva

Joao Carlos Silva

João Carlos Silva, responsável pelo Laboratório de Hemodinâmica do Hospital de S. João (CHUSJ), no Porto, explica o porquê da escolha do tema “Encerramento de FOP com Sutura”, para o Day at the Cath Lab (D@CL), que se realizou a 15 de junho, no laboratório pelo qual é responsável.

Enumera, ainda, as vantagens desta técnica, considerando tratar-se de um avanço na abordagem da doença cardiovascular.

 

“Encerramento de FOP com Sutura”. Porquê a escolha deste tema?

João Carlos Silva (JCS) – Trata-se de um tratamento inovador ainda pouco divulgado que apresenta várias vantagens em relação aos dispositivos convencionais.

A abordagem deste tema tem que ver pelo facto de ser pouco abordado e, consequentemente, pouco conhecido e posto em prática?

JCS – O objetivo é divulgar a técnica a nível nacional, já que penso que o Hospital S. João é o único a utilizá-la de forma regular e como já referi tem várias vantagens.

Quais as vantagens desta técnica?

JCS – As vantagens mais significativas são: não limita o acesso posterior à aurícula esquerda por via transeptal; não tem elementos metálicos na sua composição (menos risco de formação de trombos no dispositivo; pode ser implantado com recurso apenas a fluoroscopia / angiografia (a ecografia transesofágica é dispensável); como corolário do ponto anterior não é necessária anestesia geral; não há risco de embolização do dispositivo (já que consiste apenas num fio de sutura e um pequeno tambor (poucos mm) de um material plástico); e pode ser utilizado em doentes com alergia ao níquel.

Considera que esta técnica é um avanço na abordagem da doença cardiovascular?

JCS – De facto, penso tratar-se de um avanço, já que introduz um conceito novo na abordagem do encerramento do foramen oval patente, que é o de não deixar nada para trás.

Sistema NobleStitch. É um sistema que deveria ser mais utilizado? Quais os benefícios?

JCS – Penso que ainda é cedo para se poder afirmar que vai destronar completamente os dispositivos convencionais, mas tem potencial para isso. É necessária maior experiência clínica (idealmente com estudos randomizados), para se aferir se as expectativas se confirmam.

O que pode adiantar em relação aos casos clínicos que vão ser apresentados?

JCS – Tratam-se de doentes com persistência do foramen oval e que tiveram um AVC criptogénico (ou seja, sem evidência de outra causa para o AVC).

Quais as suas expectativas para este Day at the Cath Lab?

JCS – Em primeiro lugar, que os doentes sejam bem tratados, ou seja que o FOP fique encerrado, sem complicações. Em segundo lugar, que seja possível transmitir aos colegas as vantagens do uso deste dispositivo. Por último, tentar mostrar que o procedimento não é tão complexo como pode parecer nas primeiras implantações.

É responsável pelo Laboratório de Hemodinâmica do Hospital de S. João. Quais os seus objetivos?

JCS – Os objetivos são que os doentes possam ser tratados adequadamente e com um tempo de espera mínimo, dando resposta às solicitações dos colegas (cardiologistas e não só), quer em termos quantitativos quer qualitativos, incorporando na prática diária os tratamentos mais atuais.

E desafios?

JCS – Os principais desafios são o conseguir conciliar o tratamento dos doentes com as limitações impostas pela tutela, que atualmente incluem falta de vagas em camas de internamento, disponibilidade de anestesistas e restrições financeiras.

Qual o número de intervenções feitas desde que é responsável até ao momento?

JCS – No ano passado foram efetuados cerca de 2700 cateterismos diagnósticos, 700 angioplastias coronárias e cerca de 250 intervenções em cardiopatia estrutural / congénita.

Quais os projetos futuros relacionados com a área da Hemodinâmica?

JCS – O objetivo é tentar ultrapassar as dificuldades para que todos os doentes possam ser tratados adequadamente, sem terem de estar sujeitos a uma lista de espera significativa.