João Brum Silveira: “As minhas expectativas para este D@CL são as melhores, o tema é aliciante”

IMG 3346 scaled

No âmbito do D@CL, que se realizará no dia 15 de novembro, no CHUP – Centro Hospitalar Universitário do Porto, Hospital de Santo António, João Brum Silveira, responsável do Laboratório de Hemodinâmica deste hospital, demonstra as suas expectativas para este dia, apresentando a relevância do tema que irá estar em destaque: as oclusões crónicas.

Revela, ainda, que estará presente um master das CTO’s a nível mundial e que irão ser apresentados três casos muito desafiantes, tanto do ponto de vista clínica como técnico.

 

Qual a relevância deste tema?

João Brum Silveira (JBS) – As oclusões crónicas são o subgrupo de lesões coronárias de maior complexidade. Estima-se que a sua prevalência seja de 20% nos doentes que efetuam coronariografia diagnóstica. Pese embora esta elevada prevalência, a percentagem de doentes tratados percutaneamente é inferior a 10%. Na realidade, a presença de uma oclusão crónica é o principal motivo para propor um doente para cirurgia de revascularização do miocárdio. Porém, na ausência de indicação cirúrgica, a maioria destes doentes permanecem em terapêutica médica isolada por não lhes ser oferecido um tratamento de intervenção coronária percutânea. Para este facto contribuem a morosidade e complexidade técnica dos procedimentos aliada ao preconceito de que o sucesso de recanalização destas lesões é limitado e com maior taxa de complicações. Para além disso, mesmo nos doentes submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio, de acordo com vários ensaios clínicos randomizados, em 32% dos casos de oclusões crónicas não é colocado um enxerto, sendo esta a principal causa de revascularização incompleta e comprometendo o prognóstico e qualidade de vida dos doentes a longo prazo uma vez que se trata da principal causa de recorrência de angina pós-cirurgia.

Quais as suas expectativas para este Day at the CathLab?

JBS – São as melhores. O tema é aliciante e o facto de termos connosco um dos Masters das CTO’s a nível mundial, o nosso colega japonês Dr. Masahisa Yamane, faz com que estejam reunidas todas as condições para um D@CL especial. Teremos três casos muitos desafiantes do ponto de vista clínico e técnico, o que, para além de ser uma excelente oportunidade para partilha de conhecimento e experiência, será o momento para oferecer a estes doentes o tratamento adequado.

Quem são os doentes com CTO tratados nos laboratórios de hemodinâmica nacionais?

JBS – Na realidade não podemos responder com exatidão a essa questão, uma vez que só recentemente, na última revisão das variáveis do RNCI em 2020, é que foi criado o subgrupo de oclusões crónicas, pelo que teremos de aguardar pelo tratamento dos dados de 2021. Sabemos, porém, que a maioria dos doentes são do sexo masculino e têm história prévia de cardiopatia isquémica. As indicações para tratamento são todos os doentes sintomáticos, bem como os doentes assintomáticos com uma área de isquemia superior a 10% no território da oclusão crónica.

Quais os objetivos a médio e longo prazo do Laboratório de Hemodinâmica do Hospital Geral de Santo António?

JBS – Há mais de 15 anos que o Laboratório de Hemodinâmica do Serviço de Cardiologia do CHUP dispõe de um programa de tratamento de oclusões crónicas, sendo a nossa taxa de sucesso superior a 90%. Esperamos, com a abertura da segunda sala de hemodinâmica, que ocorreu em junho de 2022, aumentar o número de doentes tratados, promover atividade formativa para os colegas cardiologistas de intervenção com interesse na área e criação de um centro de referência dedicado.

E os desafios?

JBS – O grande desafio nesta área é a criação de um programa estruturado de angioplastia complexa a nível nacional, nomeadamente no tratamento da oclusão crónica, com operadores e equipas experientes, que dominem e tenham a ferramentas necessárias para efetuar as diferentes técnicas de recanalização. É também necessário mudar as mentalidades: ao contrário dos preconceitos ainda existentes, é importante estarmos cientes que, ao longos dos últimos anos, vários grupos de experts dedicados no Japão, Europa e EUA promoveram o desenvolvimento e a estandardização (algoritmos) de técnicas de revascularização modernas de CTOs, alcançando taxas de sucesso superiores a 90%, abordando lesões cada vez mais complexas e com uma taxa de complicações muito baixa; a evidência científica suporta a revascularização das CTOs após documentação de viabilidade e isquemia naquele território, uma vez que o sucesso da técnica garante melhoria da angina e da função ventricular, bem como uma melhor tolerância em caso de um futuro síndrome coronário agudo num território à distância.