Ao terminar o seu mandato enquanto presidente da Direção da APIC, no biénio de 2021/2023, Eduardo Infante de Oliveira, Cardiologista de Intervenção, fez uma avaliação positiva da prestação da equipa que, consigo, assumiu este desafio.
Aos sócios, colaboradores e parceiros, da APIC deixou uma mensagem de agradecimento pelos dois anos de “trabalho intenso ao serviço do desenvolvimento da APIC e da Cardiologia de Intervenção nacional”.
Foi presidente da APIC no biénio 2021/2023 qual o balanço que faz deste mandato? Cumpriu os objetivos a que se propôs?
Eduardo Infante de Oliveira (EIO) – Nos objetivos traçados aquando da nossa candidatura à Direção do biénio 2021-2023 tiveram lugar de destaque:
- A formação e educação dos mais jovens, com especial foco no lançamento de novos programas de bolsas. Neste contexto, foi iniciado o programa de bolsas de certificação europeia e criado o regulamento e reservados meios financeiros para o lançamento das bolsas de longa duração em centros de excelência internacionais.
- A manutenção e desenvolvimento das reuniões científico clínicas, ultrapassando as restrições pandémicas e facilitando a transição do modelo digital para presencial. Além do enorme sucesso das reuniões anuais da APIC e VaP-APIC, destaco a realização de 14 edições D@CL.
- A renovação e expansão do RNCI, onde gostaria de destacar a criação de uma ferramenta de aleatorização e a remodelação do âmbito do RNCI. O RNCI passará a abranger a totalidade dos procedimentos diagnósticos, passando a capturar síndromes coronários agudos sem doença obstrutiva e a capturar a totalidade de avaliações de fisiologia e imagem intra-coronária. Foram ainda acordados os modelos de financiamento e a regularidade de publicação de dados do RNCI.
- A reorganização e promoção de participação ativa dos Grupos de Estudo da APIC. Com orgulho, agradeço a colaboração significativa de todos os GE na organização de eventos, na elaboração de inquéritos, na redação de artigos e na representação dos associados da APIC.
- Apoio e expansão das ações desenvolvidas pelas iniciativas “Stent for Life” e “Valve for Life”, com especial foco na componente da literacia e sensibilização dos decisores políticos.
- Consolidação da APIC junto a associações/sociedades congéneres. Além das relações de proximidade e colaboração com a SPC, SPCCTV, GISE e SBHCI, gostaria de destacar o importante papel desempenhado pelos nossos associados na EAPIC. Pelo seu papel determinante no processo de certificação europeia e na criação de programas de mentorship e pela presença substancial de elementos nacionais nos comités EAPCI (atualmente 14 elementos).
- Representação junto de tutela e entidades oficiais, destacando as audiências e reuniões com o Ministério da Saúde (Secretário Estado António Lacerda Sales) e DGS onde foram expressas as preocupações face à acessibilidade e assimetrias regionais da via verde coronária, sobretudo da região interior centro de Portugal continental, tendo sido também abordada a problemática do transporte secundário. Em relação ao tratamento da doença valvular, as questões associadas à prevalência, demografia, iniquidade de acesso à terapêutica percutânea e escassez de equipamentos e equipas. No que diz respeito ao RNCI, foram abordadas questões relativas ao financiamento e à articulação com o registo vital (SICO – eVM).
- Pensar o futuro da APIC e da Cardiologia de Intervenção. Neste âmbito destaco a realização do Fórum de Reflexão APIC realizado em Setembro de 2022. Desafiámos a participar todos os coordenadores dos laboratórios de hemodinâmica nacionais, os coordenados das iniciativas (SSL e VFL) e RNCI, e os atuais e antigos dirigentes da APIC. Foi um oportunidade única para procurar consensos e definir estratégias. Discutimos temas sobre os quais poderíamos tomar decisões conjuntas e com verdadeiro impacto. Tais como a formação e certificação; aspetos organizacionais e laborais do tratamento da doença aguda; acessibilidade ao tratamento da doença valvular; reestruturação, financiamento e produção científica do RNCI.
- Fortalecimento da saúde económica da APIC e dar propósito ao excedente financeiro de modo a cumprir a missão da APIC. Com orgulho, iniciámos um programa de provisionamento que irá garantir o financiamento futuro dos programas de bolsas de certificação e formação, aliviando o exercício financeiro das futuras Direções. Acredito que esta iniciativa deverá ser expandida, cobrindo as iniciativas APIC de formação e investigação.
Considero, com orgulho, que o biénio 2021-2023 foi bem-sucedido e que contribuiu para que a APIC mantenha a sua imagem de dinamismo, rigor e qualidade. Estreitámos relações com sociedades científicas e entidades oficiais. Representámos os nossos associados e alcançámos o grande público. Promovemos o treino e a atualização. Lançámos bolsas para as novas gerações. Discutimos o presente e planeámos o futuro.
Quais os próximos desafios na Cardiologia de Intervenção nacional?
EIO – São múltiplos. Destacaria a dificuldade de manutenção e renovação das equipas e dos equipamentos e a necessidade de reestruturação dos Serviços de Cardiologia. Os laboratórios de hemodinâmica não poderão desempenhar em pleno as suas funções sem uma reorganização profunda dos serviços onde estão integrados. Terão de ser capacitados de técnicas de imagem avançada, o que implicará formação de profissionais e aquisição de equipamentos dedicados, reestruturação das unidades de cuidados intensivos, recobros e enfermarias para acomodar a crescente necessidade de intervenção em doentes valvulares e doentes complexos (ex. choque cardiogénico, tromboembolismo pulmonar) e simultaneamente a criação de processos e estruturas que facilitem a monitorização à distância e promovam internamentos de curta duração. Vivemos mais de uma década com escasso investimento nas estruturas hospitalares dedicadas ao tratamento da doença cardiovascular. A falta de meios acentuou-se relativamente ao padrão europeu. A dificuldade de acesso ao tratamento da doença valvular é particularmente preocupante e ilustra bem todas as carências que apontámos.
Gostaria ainda de destacar dois desafios em particular. A evolução na intervenção estrutural e no tratamento da doença aguda. A intervenção estrutural continuará a expandir e provavelmente tornar-se-á na atividade preponderante dos laboratórios de hemodinâmica e alcançará os hospitais regionais/periféricos. Teremos de encontrar o caminho para que este crescimento ocorra de forma natural e com serenidade. A descentralização destas técnicas será determinante para garantir a acessibilidade e proximidade, sem colocar em causa o devido e necessário reinvestimento nos laboratórios centrais, que terão de enfrentar novos desafios. A expansão crescente da intervenção estrutural obrigará também a uma reestruturação dos programas de treino e certificação. Assistiremos também a importantes mudanças no tratamento agudo. O choque cardiogénico e o tromboembolismo pulmonar obrigarão a repensar a dimensão das equipas de prevenção e a repensar a colaboração entre unidades. Este será um desafio organizacional e acentuará fragilidades de teor laboral – escassez de elementos, compensação inadequada, etc. – que terão de ser enfrentados.
Gostaria de concluir mencionando os aspetos positivos. A evolução constante desta área de conhecimento. A inovação incessante e o acesso permanente a novos dispositivos, novas técnicas e novas indicações são o motor dos laboratórios de hemodinâmica e dos seus operadores. São o elemento motivacional preponderante. Por outro lado, temos uma nova geração de colegas com melhor preparação, maior entusiasmo e melhor capacidade e predisposição para trabalhar em equipa. Serão o garante de melhor qualidade clínica, técnica e científica. Teremos de garantir condições para que esta geração se sinta confortável e realizada.
Que mensagem gostaria de deixar aos sócios da APIC?
EIO – Uma mensagem de agradecimento. Foram dois anos de trabalho intenso ao serviço do desenvolvimento da APIC e da Cardiologia de Intervenção nacional, que não seriam possíveis sem o envolvimento e entusiasmo dos mais de 400 associados que constituem atualmente a APIC. A todos os associados, colaboradores e parceiros deixo o meu sincero agradecimento. Foi uma honra servir a APIC.


