“Aliar a formação teórica ao treino prático em simuladores impressos 3D torna-se extremamente interessante e útil”

Curso Boston

No âmbito da 13.ª Reunião VaP-APIC, Elisabete Jorge, membro da comissão organizadora, destaca a pertinência do Curso Pré-Congresso “Coronary Access after TAVI and lifetime management – simulators training”, revelando que o treino em simuladores tem particular interesse, “sendo uma estratégia inovadora, mas com resultados cada vez mais comprovados e consistentes no treino e aquisição de competências para resolver desafios pouco frequentes, mas potencialmente fatais, difíceis de treinar no dia a dia. Avançou, ainda, quais os principais avanços nesta área.

Qual a importância e a pertinência de realizar um curso subordinado ao tema “Coronary Access after TAVI and lifetime management – simulators training”?

Elisabete Jorge (EJ) – Fruto do envelhecimento da população, a estenose aórtica tornou-se a valvulopatia mais prevalente, afetando 2-5% da população com mais de 65 anos de idade. A doença aórtica degenerativa e a doença arterial coronária frequentemente ocorrem em simultâneo. Há estudos que reportam a existência de doença coronária em 60-75% dos doentes com estenose aórtica grave. De acordo com as mais recentes guidelines europeias, a implantação de válvula aórtica percutânea (TAVI) é já a primeira opção terapêutica para doentes com idade superior a 75 anos ou de alto risco cirúrgico e temos cada vez mais e melhor evidência de bons resultados do procedimento a médio e longo prazo. O progressivo aumento da esperança média de vida associado à redução da idade para realizar este procedimento em vez da clássica cirurgia cardíaca, vai aumentar a probabilidade de ocorrência de eventos coronários durante a vida do doente pós TAVI. Regra geral, os doentes que são melhores candidatos a TAVI também são melhores candidatos a revascularização coronária percutânea como estratégia terapêutica para a sua doença coronária. Estudos demonstram que cerca de 5% dos doentes submetidos a TAVI realizam intervenção coronária percutânea nos cinco anos seguintes. Neste contexto, é crucial perceber as potenciais dificuldades para a realização de intervenção coronária percutânea em doentes que implantaram TAVI previamente. O acesso às artérias coronárias pode ser muito desafiante e o sucesso do procedimento depende da anatomia do doente, da válvula implantada e da posição desta relativamente aos ostios das coronárias, bem como da experiência e capacidade técnica dos operadores. A revascularização não planeada após TAVI ocorre maioritariamente em contexto de síndrome coronário agudo e é um evento potencialmente fatal, mas pouco frequente (2-3%).  Este facto dificulta o treino adequado das equipas de Cardiologia de Intervenção. É neste sentido que aliar a formação teórica ao treino prático em simuladores impressos 3D se torna extremamente interessante e útil para o desenvolvimento desses competências.

Quais os principais objetivos, avanços e desafios a focar?

EJ – Os principais objetivos deste curso são: reconhecer fatores de risco para oclusão coronária pré-implantação de TAVI e fornecer estratégias para minimizar este acontecimento; perceber a importância do alinhamento comissural e implementar estratégias para o conseguir; e treinar as técnicas de cateterização coronária pós implantação de TAVI Acurate Neo2 com recurso a simuladores impressos 3D.

Quais as expectativas para este curso?

EJ – Com a atual elegibilidade para TAVI de doentes de menor risco, mais novos e com maior esperança de vida, o tratamento da doença coronária nestes doentes passará a ser um desafio cada vez mais frequente e é necessário que as equipas de Cardiologia de Intervenção estejam preparadas para lidar com este desafio técnico. O treino em simuladores reveste-se de um particular interesse, sendo uma estratégia inovadora, mas com resultados cada vez mais comprovados e consistentes no treino e aquisição de competências para resolver desafios pouco frequentes, mas potencialmente fatais, difíceis de treinar no dia a dia.

Têm-se verificado muitos avanços nesta área. Quais destaca?

EJ – Tem-se verificado uma evolução e um melhoramento contínuo do design dos dispositivos no sentido de facilitar o acesso às artérias coronárias após a implantação do dispositivo, dado que já se percebeu que este é um aspeto determinante, nomeadamente para a decisão de implantar TAVI em doentes cada vez mais jovens e com maior esperança de vida. Também é atribuída cada vez mais relevância à preparação do caso clínico, com conhecimento profundo dos aspetos associados a maior risco de oclusão coronária durante a implantação do dispositivo e a estratégias para minimizar este evento, como o correto alinhamento comissural.

A quem se destina este curso e por que razão não o devem perder?

EJ – Este curso destina-se a cardiologistas de intervenção, cardiologistas a fazer formação específica em Cardiologia de Intervenção, técnicos de Cardiopneumologia e enfermeiros dedicados a esta área. É importante destacar que este curso poderá ser muito útil e relevante não só para os cardiologistas de intervenção que fazem intervenção valvular aórtica percutânea, mas também para todos os cardiologistas de intervenção, dado que todos podem ser confrontados com a necessidade de cateterizar as coronárias de doentes que implantaram previamente TAVI, seja num contexto programado de síndrome coronário crónico, seja em contexto de síndrome coronário agudo.