
A edição de 2025 da APIC Focus Meeting, que se realiza a 25 de setembro, terá como tema central a desnervação renal, uma técnica que tem vindo a ganhar destaque no tratamento da hipertensão arterial resistente. Joana Delgado Silva, presidente da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), sublinha a importância de atualizar conhecimentos, promover o debate científico e reforçar a colaboração multidisciplinar, destacando a parceria com a Sociedade Portuguesa de Hipertensão e a presença de especialistas nacionais e internacionais de referência.
Porque é que a temática da desnervação renal foi escolhida como foco central da edição de 2025 da APIC Focus Meeting?
Joana Delgado Silva (JDS) – A desnervação renal é, atualmente, uma das inovações mais relevantes no tratamento da hipertensão arterial. Nos últimos anos, a evidência científica tem comprovado a sua eficácia e segurança, tornando-a uma opção adicional para doentes que não atingem valores tensionais adequados apenas com terapêutica farmacológica. A escolha deste tema para 2025 reflete a importância de promover atualização científica, partilha de experiências e debate acerca da utilização desta técnica em Portugal.
Que relevância clínica e científica assume atualmente a desnervação renal no contexto da Cardiologia de Intervenção, e quais os avanços mais significativos que estarão em debate no encontro?
JDS – Clinicamente, a desnervação é uma potencial solução para doentes cuja tensão arterial permanece elevada, apesar de tratamento otimizado. Do ponto de vista científico, vivemos um momento decisivo: ensaios clínicos multicêntricos e randomizados, como o SPYRAL HTN e o RADIANCE, demonstraram reduções consistentes e sustentadas da pressão arterial, o efeito always on, e um perfil de segurança favorável. No encontro, serão discutidas as diferentes tecnologias disponíveis, critérios de seleção de doentes e resultados a longo prazo.
Este ano, a APIC contará com a presença da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH). O que motivou este convite e parceria?
JDS – A hipertensão arterial exige uma abordagem conjunta que inclui a Cardiologia clínica e a Cardiologia de intervenção, entre outras áreas médicas. A presença da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) resulta da convicção de que esta colaboração multidisciplinar é fundamental para otimizar o diagnóstico, a seleção e o seguimento dos doentes. Com esta parceria, queremos promover um debate mais abrangente e integrador, reunindo perspetivas complementares, mas com um objetivo comum: melhorar o tratamento dos doentes com hipertensão arterial, o fator de risco mais prevalente e com maior impacto cardiovascular em todo o mundo.
Que tipo de colaboração tem sido desenvolvida entre a APIC e a SPH na área da desnervação renal?
JDS – Atualmente, a APIC e a SPH encontram-se a colaborar na elaboração de um documento de consenso nacional na área da desnervação renal, destinado a definir critérios de seleção, protocolos de atuação e boas práticas baseadas na melhor evidência científica. O nosso objetivo é que ambas as sociedades possam promover sessões científicas conjuntas e iniciativas de formação, como a Focus Meeting, com o objetivo de assegurar a utilização da técnica de forma segura, criteriosa e harmonizada a nível nacional.
Quem são os principais destinatários da APIC Focus Meeting 2025 e que benefícios poderão retirar da sua participação?
JDS – O evento destina-se a qualquer profissional de saúde interessado em aprofundar os seus conhecimentos na área da desnervação renal e o seu potencial como cardiologistas de intervenção, cardiologistas clínicos, internistas, nefrologistas, especialistas em hipertensão, médicos de Medicina Geral e Familiar, técnicos de Cardiologia, enfermeiros, etc. Trata-se de uma reunião concebida para ser interativa, promovendo a troca de conhecimentos, experiências e ideias, entre participantes e oradores.
Que objetivos concretos é que a organização espera alcançar com esta edição?
JDS – Pretendemos consolidar o conhecimento técnico-científico sobre a desnervação renal, reforçar a colaboração multidisciplinar e otimizar a utilização da técnica em Portugal. Um dos principais objetivos é ajudar a definir um percurso clínico nacional para doentes com indicação para a desnervação, incluindo a adequada seleção dos candidatos e assegurando continuidade desde a decisão terapêutica até ao seguimento pós-procedimento.
Que impacto espera que as discussões e conclusões desta reunião tenham na prática clínica nacional e internacional?
JDS – Esperamos que resultem em orientações claras que permitam uniformizar práticas, melhorar o acesso e otimizar os resultados clínicos. A nível internacional, pretendemos afirmar que Portugal é um país ativo e alinhado com as melhores práticas nesta área de grande relevância.
Há algum aspeto ou novidade que gostaria de destacar e que torne esta edição da APIC Focus Meeting particularmente especial?
JDS – Além da parceria com a SPH e da presença de especialistas nacionais de referência, teremos como orador convidado internacional o Prof. Joachim Weil, reconhecido pela sua participação ativa em ensaios clínicos pioneiros e liderar investigação na área da desnervação renal. A sua presença acrescentará uma perspetiva valiosa à discussão. O formato privilegiará sessões interativas e debate aberto, promovendo uma abordagem prática e próxima da realidade clínica.