
Entrevista a Carlos Galvão Braga, Cardiologista de intervenção do Hospital de Braga.
Cardiologista de intervenção do Hospital de Braga e responsável pela ação formativa Day at the Cath Lab (D@CL), desde 2019, Carlos Galvão Braga, fala um pouco sobre o evento, a sua história, objetivos e mais-valias, ações passadas e futuras.
Para o médico, “é um privilégio” estar na organização de cada D@CL, em conjunto com os respetivos laboratórios de hemodinâmica, uma vez que considera trata-se de uma iniciativa “enriquecedora” para todos os participantes e que permite tornar a comunidade da Cardiologia de Intervenção mais “forte” e “unida”.
O D@CL é uma ação formativa para cardiologistas de intervenção, que decorre em ambiente de laboratório de hemodinâmica. Quais os seus objetivos e mais-valias?
Carlos Braga (CGB) – A iniciativa D@CL pretende promover ações de formação práticas e dinâmicas, com a finalidade de adquirir ou partilhar conhecimento em procedimentos inovadores e complexos. O D@CL é uma iniciativa para todos os cardiologistas de intervenção, especialmente relevante para internos da especialidade e jovens cardiologistas.
Estas formações decorrem habitualmente com 5 a 10 participantes, num ambiente informal, prático e de proximidade, como se de um dia normal no laboratório de hemodinâmica em questão se tratasse, sendo habitualmente uma experiência bastante enriquecedora para todos os participantes e para a equipa local.
Há quanto tempo se realiza o D@CL? Conte-nos um pouco da história desta iniciativa.
CGB – O D@CL teve início em 2015, sob coordenação do Dr. Renato Fernandes, que foi o grande impulsionar da iniciativa e fez um trabalho extraordinário, tornando o D@CL numa das bandeiras da APIC.
A ideia inicial foi promover a interação entre os profissionais de saúde na área da Cardiologia de Intervenção, dando a conhecer cada um dos laboratórios de hemodinâmica do país.
Desde o princípio, o D@CL tem sido aproveitado para o desenvolvimento de uma técnica que não esteja disponível ou rotinada em cada centro em particular, ou então para a realização de uma técnica em que haja proficiência no centro e que se pretenda partilhar com outros cardiologistas de intervenção interessados, o que tem contribuído para a diferenciação de cada centro.
É o responsável pelo D@CL desde 2019. Como é que surgiu esta oportunidade?
CGB – Quando integrei a Direção da APIC no biénio 2019-2021, fui convidado pelo Dr. João Silveira, anterior presidente da APIC, para dar continuidade à iniciativa.
Foi com grande entusiasmo e satisfação que aceitei o desafio, uma vez que já tinha participado em algumas edições anteriores e sempre achei que era uma excelente forma de aprender, partilhar experiências e conhecer a nossa comunidade.
Como é a experiência de ser o responsável por esta iniciativa?
CGB – Tem sido uma experiência muito gratificante e enriquecedora. Sinto-me um verdadeiro privilegiado por poder organizar cada D@CL em conjunto com os responsáveis e dinamizadores dos laboratórios de hemodinâmica. Tenho tido o prazer de conhecer pessoas fantásticas de vários laboratórios de hemodinâmica, a quem devo um sentido agradecimento, e aprendido imenso com as diversas formas de trabalhar. Acredito que esta iniciativa contribui para nos tornarmos numa comunidade mais forte e unida.
A pandemia covid-19 obrigou a uma pausa nestas ações formativas. Como foi a sua retoma em 2021?
CGB – Com o início da pandemia, tivemos que adiar vários D@CL que estavam programados, alguns mesmo poucos dias antes da data prevista. Foi um ano e meio de espera e de incertezas até podermos reiniciar a iniciativa com toda a segurança.
Em junho de 2021, retomámos o D@CL, logo com duas edições, a primeira no Hospital de Faro, com o tema “Acesso radial distal”, e a segunda no Hospital de São Teotónio, em Viseu, com o tema “Intervenção coronária percutânea em bifurcações: quanto mais simples melhor?”.
Ambas correram muito bem e foram extremamente didáticas. Depois das férias de verão, realizámos mais duas edições, também muito participadas e interessantes, em setembro no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (Hospital Geral/Covões), com o tema “Utilização de suporte circulatório mecânico em angioplastia de alto risco”, e, em novembro, no Hospital de Braga, com o tema “Lesões coronárias calcificadas”.
E para 2022, qual é o plano?
CGB – Em 2022, temos várias ações de formação a ser programadas, tanto sobre intervenção estrutural – como é o caso da “T.A.V.I.- Todas As Válvulas (são) Importantes?”, prevista para o dia 12 de janeiro, no Hospital de Santa Cruz; e de uma sobre intervenção percutânea tricúspide no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia, provavelmente em março – como sobre intervenção coronária – com o tratamento de lesões coronárias com balão “scoring”, prevista para fevereiro, no Centro Hospitalar Universitário do Porto. Os temas “angina sem doença coronária obstrutiva” e “angioplastia complexa em pacientes com risco hemorrágico elevado” também serão abordados mais tarde.
O agendamento de cada um destes D@CL vai estar dependente também da evolução e das restrições impostas pelas vagas da pandemia.
Como é o critério de escolha de temas e laboratórios?
CGB – A escolha do tema e do laboratório de hemodinâmica está habitualmente relacionada com o desenvolvimento de novas técnicas que se pretendam iniciar num determinado laboratório de hemodinâmica ou com a partilha de uma técnica inovadora/complexa em que um laboratório seja proficiente, seja por convite ou por iniciativa da equipa residente de Cardiologia de Intervenção.
Um dos objetivos a realizar quando possível, será completar a participação de todos os laboratórios de hemodinâmica do país. Neste momento, está apenas a faltar a realização de um D@CL no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
Trata-se de uma formação que, dada as suas características, não permite muitas inscrições. Como é feita a seleção dos profissionais que podem estar presentes em cada ação?
CGB – Como o objetivo é a participação ativa de cada um dos formandos, as inscrições estão habitualmente limitadas entre 5 a 10 participantes. A divulgação é realizada na newsletter da APIC para todos os sócios e a seleção dos profissionais é efetuada por ordem de inscrição (“first come, first served”).
Qual tem sido o feedback dos colegas/formandos?
CGB – O feedback tem sido muito positivo, dado o carácter prático, informal e didático das edições. A maioria dos formandos tem aproveitado para tomar, pela primeira vez, contacto ou adquirir maior experiência numa determinada técnica, que depois poderá vir a utilizar no seu laboratório de hemodinâmica.
Formou-se em Medicina, em 2008, pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, no Porto. Fale um pouco sobre o seu percurso.
CGB – Depois da licenciatura, que tirei entre 2002 e 2008, fiz, em 2009, o internato do ano comum no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. Entre 2010 e 2014, fiz o internato da especialidade de Cardiologia no Hospital de Braga e, entre 2015 e 2017, fiz a subespecialidade de Cardiologia de Intervenção, com um ano de formação no Complejo Hospitalario Universitario de Santiago de Compostela, em Espanha, e outro no Hospital de Braga.
Quando percebeu que a Medicina seria o seu futuro?
CGB – Desde criança que tive muita curiosidade sobre as razões da saúde e da doença e motivação para tratar do outro. Mais tarde, no ensino secundário, despertou o meu interesse pela investigação e inovação.
Ao conversar com profissionais de diferentes áreas, percebi que a Medicina tinha um vasto leque de opções e que poderia um dia direcionar as minhas escolhas para uma área que me realizasse.
Por que razão escolheu a área da Cardiologia para se especializar?
CGB – A escolha da especialidade de Cardiologia prendeu-se com o facto de ser uma especialidade que sempre me despertou fascínio, por vários motivos: correlação entre os mecanismos fisiopatológicos e as manifestações clínicas da doença cardiovascular, evidência científica a suportar a melhor decisão/opção terapêutica, evolução constante e desafiadora de dogmas, capacidade de modificar o prognóstico dos pacientes.
E a Cardiologia de Intervenção?
CGB – A Cardiologia de Intervenção foi uma oportunidade que surgiu no final do meu internato e que agarrei com todo o entusiasmo e dedicação. Sinto-me bastante feliz e realizado por trabalhar nesta área e estou sempre à procura de um novo desafio que me mantenha motivado.
Projetos futuros?
CGB – A nível profissional, num futuro que espero breve, gostaria de ter as condições para continuar a progredir na diferenciação em intervenção coronária complexa e de iniciar a formação em intervenção estrutural valvular.