
“Bifurcações” é o tema da 39.ª edição do D@CL, que se irá realizar no Centro Hospitalar de Leiria, a 12 de janeiro. Francisco Soares, Cardiologista de Intervenção na Unidade de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular do Serviço de Cardiologia da Unidade Local de Saúde de Leiria, explicou a relevância deste tópico para que exista “o melhor resultado técnico possível e com isso o melhor prognóstico pós intervenção”. Além disso, desvendou em que irá consistir este dia de formação e os conhecimentos que os participantes deverão ter obtido no final da mesma.
Qual a relevância deste tema?
Francisco Soares (FS) – As bifurcações coronárias representam até 20% das lesões coronárias tratadas por via percutânea. Apesar das melhorias quer de estratégia quer da disponibilidade de melhor tecnologia no tratamento destas lesões ao longo dos anos, permanecem como um preditor independente de pior resultado clínico. Isto é explicado pelas dificuldades técnicas inerentes ao tratamento deste tipo de lesões, menor sucesso técnico e maior taxa de complicações como tromboses ou reestenoses. Sendo um tipo de lesão tão comum e tão desafiante, é um tema sempre relevante e atual na Cardiologia de Intervenção, em constante atualização, e com novos dispositivos terapêuticos constantemente a surgir no mercado, o que sobreleva a necessidade da formação contínua adequada.
Qual o perfil de doentes que habitualmente são tratados com esta técnica?
FS – Os doentes que apresentam lesões em bifurcações habitualmente apresentam doença anatomicamente mais extensa, mais frequentemente têm antecedentes de enfarte ou intervenção coronária prévia, são mais idosos, têm maior prevalência de fatores de risco cardiovascular e doença renal crónica. Além disso, é frequente haver calcificação importante destas lesões, estando presente em pelo menos um terço. No caso particular de doença do tronco comum da coronária esquerda, a bifurcação distal está envolvida em mais de 60% dos casos, o que complica a intervenção do ponto de vista técnico e representa por si só um marcador de pior prognóstico. Tendo em conta o perfil de mais alto risco destes doentes, é essencial que o Cardiologista de Intervenção tenha um treino intensivo em todas as abordagens diagnósticas, de preparação destas lesões e de intervenção final de modo a garantir o melhor resultado técnico possível e com isso o melhor prognóstico pós intervenção.
Quais são os principais tópicos abordados durante este evento formativo?
FS – No D@CL de 12 de janeiro, realizado na Unidade de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular do Serviço de Cardiologia da Unidade Local de Saúde de Leiria, serão abordados inicialmente os conceitos básicos de intervenção percutânea de lesões em bifurcações, quer do ponto de vista do estudo das lesões para melhor preparação, quer das várias técnicas de intervenção que devem fazer parte do portfólio contemporâneo da abordagem destas lesões. Posteriormente, e sendo o foco principal do evento, será abordada a utilização de dispositivos especialmente dedicados ao tratamento destas lesões, nomeadamente stents especificamente desenhados para o efeito. Para facilitar a aprendizagem e partilha de conhecimentos, serão realizados três casos ao vivo com a possibilidade de treino hands-on dos participantes e aquisição de experiência e conhecimento com um proctor com larga experiência, quer no tratamento destas lesões, quer na utilização de dispositivos dedicados.
No final deste D@CL, que conhecimentos os participantes terão adquirido?
FS – Sendo um evento com a duração de um dia, o principal objetivo será a familiarização com a utilização de dispositivos dedicados para o tratamento de lesões de bifurcações, bem como a consolidação de conhecimentos para a abordagem destas lesões. Será também uma excelente oportunidade para criação de redes de trabalho para futuro treino aprofundado do tratamento deste tipo de lesões.
Há alguma mensagem que queira deixar aos interessados nesta edição?
FS – A mensagem chave é que se pretende um evento aberto, com ambiente de aprendizagem e companheirismo, participação ativa, troca de experiências e consolidação de relações profissionais mutuamente benéficas, como é cunho dos eventos D@CL da APIC. Todos serão bem-vindos!