Foi no passado dia 6 de setembro, no Hospital de Santo António (Centro Hospitalar Universitário do Porto), que decorreu a 20ª edição do D@CL, uma vez mais dedicada ao tema “Drug eluting balloon em vasos nativos”.
Contamos com a presença do Dr. Daniel Weilenmann, presidente do Grupo de Cardiologia de Intervenção da Suíça e coordenador do departamento de Cardiologia de Intervenção do Kantonsspital St. Gallen (Suíça). Foi uma excelente oportunidade para rever os principais marcos que pautaram a história da intervenção coronária percutânea e sedimentar o algoritmo de tratamento de lesões coronárias nativas com drug-eluting balloon (DEB).
Foram tratados 3 doentes com sucesso e sem complicações, incluindo uma paciente com uma bifurcação tipo Medina [0,0,1], um paciente com uma oclusão crónica (J-CTO=2) que não foi possível recanalizar em 1º tempo e uma lesão calcificada tratada com DEB e, finalmente, um paciente com três lesões, incluindo doença difusa distal, uma bifurcação Medina [0,0,1] e uma estenose longa, todas tratadas com DEB. Foram casos interessantes, que permitiram uma discussão ativa entre os participantes sobre as estratégias de revascularização, apoiada na experiência, critério e senso clínico do Dr. Daniel Weilenmann.
Tratou-se, como habitualmente, de um curso de cariz prático, tipo hands-on, em que os participantes estiveram dentro do laboratório e alguns tiveram inclusivamente a possibilidade de estar na mesa de intervenção.
A APIC gostaria de agradecer a toda a equipa do laboratório de hemodinâmica do Hospital de Santo António, em particular ao Dr. João Silveira (presidente da APIC), ao Dr. André Luz e ao Dr. Bruno Brochado, pelo empenho na organização deste evento, que consideramos ter sido muito útil para os participantes
3 perguntas ao Dr. Daniel Weilenmann:
- Qual a sua opinião sobre a importância dos D@CL na formação de fellows e cardiologistas de intervenção?
O “Day at the cath lab” é uma forma maravilhosa e eficaz de compartilhar experiências e novas intervenções num grupo pequeno. Este formato facilita e garante uma interação direta num ambiente familiar. Trata-se do formato moderno de passar conhecimentos e experiências de masters na matéria para fellows e médicos menos experientes.
- Como foi a sua experiência no D@CL realizado no Hospital de Santo António?
Foi um imenso prazer e uma grande satisfação poder participar e contribuir para o sucesso deste D@CL. O equilíbrio entre palestra científica e casos ao vivo foi excelente e contribuiu para o grande sucesso deste evento. A satisfação de todos os participantes foi bem visível. O ambiente familiar e amistoso é fundamental para um evento deste tipo. Agradeço muito ao Dr. João e à APIC o convite e apoio prestado.
- Qual o papel dos DCB em vasos nativos?
No início, a intervenção percutânea das coronárias era realizada apenas com balão. Vários problemas surgiram, com a dissecção e o recoil, que foram resolvidos com o aparecimento das próteses intracoronárias (stents). Nos vasos pequenos os resultados dos stents, mesmo sendo farmacológicos, não são tão interessantes como nos vasos de maior diâmetro. Nos últimos 10-15 anos, com a emergência de próteses bioabsorvíveis (scaffolds), o sonho da cardiologia de intervenção foi o tratamento da doença coronária sem deixar material nas artérias a longo prazo. Inicialmente, o sucesso desta intervenção teve resultados satisfatórios. Em paralelo, a teoria de tratar estenoses coronárias com balão farmacológico (drug coated ballon=DCB) e sem stent também ganhou ênfase. Muitos registos e estudos pequenos mostraram resultados interessantes e positivos. Finalmente, com a publicação do primeiro estudo randomizado “BASKET small 2” (DES versus DCB) temos a prova científica da não inferioridade dos DCB em vasos pequenos (≤ 2.75mm). Com essa evidência científica abrimos de nova a porta ao sonho eterno da angioplastia sem colocar stents (stentless PCI), deixando a artéria coronária num estado mais natural e oferecendo a possibilidade de um remodelling positivo, o qual não seria possível com um stent.


