Médicos, técnicos e enfermeiros são os elementos que constituem a equipa que atua no programa de intervenção estrutural de cardiologia do Hospital Garcia de Orta.
O cardiologista Hélder Pereira, responsável da Unidade de Cardiologia de Intervenção, revelou alguns detalhes sobre o projeto, que conta já com uma história bastante sólida e ambiciosa no panorama dos serviços médicos.
Qual a importância de dar início a um programa de intervenção estrutural na área de influência do Hospital Garcia de Orta?
Hélder Pereira (HP) – Claramente, a cardiologia de intervenção está em permanente inovação com a introdução de novas técnicas, muitas delas menos invasivas face à alternativa cirúrgica, que vêm dar resposta a variadas patologias cardiovasculares que não apenas a doença coronária. Inicialmente, estas técnicas foram desenvolvidas nos centros com cirurgia cardíaca, mas rapidamente nos apercebemos de que a resposta era insuficiente face às necessidades e que haveria que alargar o âmbito de atuação a outros centros nacionais. O HGO, presentemente com quatro salas de angiografia, uma ampla Unidade de Cuidados Intensivos, Cirurgia Vascular, Neurorradiologia e Neurocirurgia, tem o dever de ser um parceiro ativo na procura de resposta atempada à cada vez maior necessidade de intervenção nesta área. Por exemplo, na área da patologia valvular aórtica, calcula-se que estamos a tratar, por via percutânea, apenas um terço dos doentes que necessitam desta terapêutica, sendo que os atuais centros com cirurgia cardíaca, não têm capacidade instalada para dar resposta a estas necessidades.
Quando se iniciou o programa/se iniciará o programa?
HP – O programa de tratamento da cardiopatia estrutural tem mais de uma década no HGO. Começamos pelo encerramento de forâmen ovale patente e posteriormente estendemos ao encerramento do apêndice auricular esquerdo.
Que passos foram necessários para chegar até aqui?
HP – Fomos pioneiros, em Portugal, na realização de angioplastia coronária em centros sem cirurgia cardíaca. Nessa altura, só após uma sólida formação numa instituição estrangeira, é que iniciamos o programa no HGO e, inicialmente, em estreita colaboração com o Hospital de Santa Cruz e o apoio do Prof. Seabra Gomes. Da mesma forma, há mais de cinco anos, iniciamos a formação de operadores para o implante de válvulas aórticas, também no Hospital de Santa Cruz. Decorrido este período, pensamos estarem reunidas as condições ideais para, no regime de colaboração interinstitucional e em afiliação, podermos realizar os procedimentos no HGO, dando aos doentes toda a qualidade e segurança que têm em Santa Cruz.
Quem são os doentes que já beneficiaram/beneficiarão deste programa?
HP – Diretamente, são os doentes que estão em listas com tempos de espera inaceitáveis. Números divulgados pelos responsáveis, mostram que a mortalidade em lista de espera é da ordem dos dois dígitos. Indiretamente, este projeto é muito mais ambicioso, pois este projeto piloto de afiliação, seguramente irá guiar outros centros no sentido de seguirem caminhos idênticos. Não menos importante é a possibilidade de alargar a formação, em cardiopatia estrutural, a um maior número de instituições do Serviço Nacional de Saúde. A Cardiologia de Intervenção é uma subespecialidade relativamente exigente dado ser das especialidades com uma das maiores exposições a radiações ionizantes assim como ser muito exigente, em termos de disponibilidade de urgências, pois assegura a Via Verde Coronária em regime 24/7 em todo o país. Se permitirmos a distinção entre especialistas de primeira, que têm acesso a estrutural, e especialistas de segunda, que se limitam às coronárias, além de não nos prepararmos com o número de médicos necessários às necessidades futuras em estrutural poderemos ter também problemas em encontrar interessados em trabalhar nas zonas mais periféricas.
Quais são os principais objetivos do programa?
HP – Dar resposta à crescente necessidade de tratamento estrutural e reduzir o número de doentes que estão semanas internados à espera de ser tratados e, sobretudo, reduzir a mortalidade que temos tidos em lista de espera.
E os principais desafios?
HP – Não podemos ignorar que vivemos num país com dificuldades económicas e recursos escassos. Estes programas levam, a curto prazo, a aumento da despesa. A iniquidade de acesso no nosso país em cuidados médicos é assustadora. Se não lutarmos para alargar sucessivamente estes programas a instituições mais periféricas, continuaremos a viver em dois países completamente diferentes no acesso a cuidados de saúde.
Quem constitui a equipa e como se prepararam para este importante passo?
HP – A equipa é constituída por médicos, técnicos e enfermeiros de ambas as instituições. Do ponto de vista dos operadores do HGO, neste momento estão em formação três elementos médicos sénior, mas o programa será para ser alargado a toda a equipa.
Quais os projetos futuros relacionados com o laboratório de hemodinâmica de que é responsável?
HP – O nosso objetivo é continuar a acompanhar os rápidos desenvolvimentos da Cardiologia de Intervenção. A inteligência coletiva mostra-se superior à individual, pelo que a troca de know-how interinstitucional será sempre bem-vindo para melhor cuidarmos dos nossos doentes. Não menos importante, continuaremos e dar, dentro das nossas possibilidades, possibilidade de formação e oportunidades de investigação aos vários grupos de profissionais que nos procuram.
Entrevista com Dr. Hélder Pereira
Responsável da Unidade de Cardiologia de Intervenção do Hospital Garcia de Orta


