
Rui Campante Teles, responsável pela coordenação da Iniciativa Valve For Life/Corações de Amanhã, dinamizada pela Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), cuja finalidade incide na consciencialização da população geral e comunidade médica sobre a doença valvular aórtica e as suas terapêuticas, faz um balanço da Iniciativa.
O especialista em Cardiologia aproveitou para fazer um ponto de situação do projeto, refletindo nos moldes que constituem o seu funcionamento, assim como as condicionantes associadas à rede de cuidados de saúde nacional.
Atualmente é coordenador do Projeto Valve For Life/Corações de Amanhã, da APIC, cargo que já assumiu no biénio passado. Qual o balanço da iniciativa até ao momento?
Rui Campante Teles (RCT) – A iniciativa Valve For Life Portugal tem um resultado muito positivo até à data, embora não nos possamos considerar satisfeitos ainda. De um ponto de vista da consciencialização da doença valvular, na vertente da válvula aórtica, do tratamento através de cateterismo, de uma forma geral tanto os doentes como os médicos assistentes estão a par da importância que esta opção constitui. Têm sido referenciados doentes com assiduidade nos vários centros, de tal maneira que o grande debate não é a referenciação de doentes com patologia valvular aórtica para tratamento por cateterismo, mas sim a forma como poderemos dar resposta em tempo útil, tendo em conta as preocupações relevantes com o avolumar das listas de espera, tanto para tratamentos com cateterismo, como para tratamentos por cirurgia.
Portanto, existe um êxito clínico notório, com excelentes resultados a nível do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção (RNCI), que neste momento coloca desafios naquilo que é a rede de prestação de cuidados de saúde na válvula aórtica a nível nacional, no que diz respeito à rede de referenciação no Serviço Nacional de Saúde (SNS), como a resposta cada vez mais avolumada dos hospitais privados, que também não é de ignorar.
Relativamente à doença valvular mitral e tricúspide, que é uma vertente diferente, encontramo-nos numa fase incipiente do desenvolvimento da terapêutica, com um conhecimento quer da população, quer dos nossos pares, médicos de Medicina Geral e Familiar e colegas de Cardiologia. Isso leva-nos à potencial solução que é o investimento em campanhas de sensibilização para a doença valvular mitral e tricúspide, tanto da população como dos nossos colegas.
Nesta última vertente, o grupo de trabalho está a implementar reuniões modelo de norte a sul do país, em vários centros, de forma que os referenciadores tenham a possibilidade de tomar conhecimento mais próximo das terapêuticas e poder identificar os doentes que podem beneficiar das mesmas. Estamos a falar de doentes que têm tratamentos potenciais por cateterismo, com plastias mitrais ou tricúspides, ou outras técnicas também administradas através de cateter, mas também técnicas minimamente invasivas por cirurgia.
Portanto, o foco da task force da Valve For Life, que é composta por um grupo de cerca de 40 pessoas, metade de Cardiologia de Intervenção, um quarto de cardiologistas clínicos ou de Imagiologia e um quarto de cirurgiões cardíacos, é precisamente ajudar a divulgar estas técnicas.
Quais os objetivos traçados para o biénio de 2023-2025?
RCT – Os objetivos traçados são manter e potenciar a capacidade de resposta do tratamento da doença valvular aórtica, de forma a colmatar o aumento das listas de espera, com o aumento de número de centros e a intervenção da tutela, isto em relação à doença valvular aórtica. Na doença valvular mitral e tricúspide importa aumentar a consciencialização do público e dos nossos pares sobre as potencialidades terapêuticas que cresceram muito nos últimos dois a três anos nesta área.
Quais os principais desafios atuais e futuros da iniciativa Valve for Life?
RCT – Os principais desafios atuais são conseguir envolver todos os atores intercetados nesta patologia, particularmente os decisores e organizadores, no sentido de ampliar a capacidade de resposta dos serviços de cirurgia cardíaca e de cardiologia de intervenção. Um outro desafio é envolver todos os que têm a ver com a comunicação neste foco e conseguir comunicar as atualizações e problemáticas dentro da área mitral e tricúspide.