
A cidade do Porto será palco da 16.ª Reunião Anual da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), um dos encontros científicos mais relevantes para a Cardiologia de Intervenção em Portugal. O presidente do evento, João Silva Marques, destaca a importância da aposta simultânea na inovação, simulação e valorização da excelência nacional. Realizada no Porto, de 20 a 22 de novembro, a reunião contará com a presença de renomados especialistas nacionais e internacionais, reforçando a importância da formação dos profissionais de hoje, mas também das gerações futuras, fortalecendo, assim, pontes nacionais e internacionais.
É o presidente da Reunião Anual da APIC 2025. A nível pessoal, o que significa para si este cargo?
João Silva Marques (JSM) – É para mim é uma honra e um privilégio presidir a Reunião Anual da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC). Sempre acreditei na importância de promover práticas clínicas em Cardiologia de Intervenção que sejam padronizadas, reprodutíveis e baseadas na melhor evidência científica, com o objetivo de garantir previsibilidade nos procedimentos e, sobretudo, melhores resultados para os nossos doentes. Este cargo representa, por isso, uma oportunidade única para impulsionar a discussão sobre estas práticas e para estimular a construção de consensos que reforcem o papel da cardiologia de intervenção portuguesa no panorama internacional.
Simultaneamente, a Reunião Anual da APIC é um espaço privilegiado para abordar os desafios que persistem no tratamento de patologias mais raras ou complexas, que exigem uma abordagem terapêutica altamente personalizada. Este equilíbrio entre a padronização e a personalização do tratamento cardiovascular é, a meu ver, um dos grandes temas do futuro da nossa especialidade.
É, naturalmente, um desafio pessoal, mas acima de tudo uma missão coletiva partilhada com toda a comissão organizadora: queremos colocar a cardiologia de intervenção portuguesa no centro do debate científico e técnico, promovendo o reconhecimento do que de melhor se faz no país. A nossa ambição é dar palco e voz a todos os que, diariamente, contribuem para o avanço desta área nos laboratórios de Cardiologia de Intervenção nacionais. Estamos empenhados em construir um programa dinâmico, atual e inspirador, que honre todos os associados da APIC e reforce o nosso contributo para o desenvolvimento da Cardiologia de Intervenção.
Este ano a 16.ª Reunião Anual da APIC realizar-se-á no Porto. Porquê a escolha desta cidade?
JSM – A escolha do Porto resulta da combinação de vários fatores determinantes. Em primeiro lugar, a cidade oferece excelentes acessibilidades, tanto para participantes nacionais como internacionais. Em segundo lugar, a capacidade hoteleira e a qualidade das infraestruturas — no caso concreto o Hotel Pestana Douro Riverside — garantem as condições ideais para um evento desta dimensão. O ambiente envolvente, com o Douro como pano de fundo, proporciona um cenário inspirador e acolhedor.
Acresce o facto de a região do Grande Porto ser um polo de referência na Cardiologia de Intervenção, concentrando vários centros de excelência tanto na prática clínica como na inovação. A presença da APIC no Porto traduz-se também na valorização e divulgação da atividade que aqui se desenvolve. Estamos convictos de que esta escolha vai potenciar a participação e satisfação de todos os intervenientes.
Aquando da escolha do programa, quais os critérios que foram tidos em conta?
JSM – O programa, ainda em desenvolvimento, assenta em três pilares fundamentais: excelência nacional, inovação e formação.
Queremos promover o que de melhor se faz em Portugal em Cardiologia de Intervenção, tanto ao nível da prática clínica como da produção científica. Daremos destaque ao trabalho clínico e aos trabalhos publicados por cardiologistas de intervenção portugueses, reforçando a nossa projeção internacional em articulação com associações congéneres.
A inovação será uma marca forte do programa. Vamos trazer técnicas e dispositivos inovadores que estão a transformar a prática da Cardiologia de Intervenção. Contaremos com casos ao vivo, sessões de simulação e demonstrações técnicas que permitirão capacitar profissionais com diferentes níveis de experiência.
Por fim, a formação terá um papel central, com cursos pré-congresso, sessões práticas e a estreia de uma Training Village. Queremos preparar não só os profissionais de hoje, mas também as gerações futuras, reforçando pontes nacionais e internacionais.
Quais são os principais temas em destaque nesta edição?
JSM – Os grandes temas dividir-se-ão entre a intervenção coronária e a intervenção estrutural.
Destaco desde já a sessão Sim@LiveCathLab – One Patient, Multiple Approaches, Simulated in Real Time, um formato inovador em que, a partir de um caso clínico real de TAVI com transmissão em direto, diferentes estratégias serão simuladas em modelos realistas para discutirmos as melhores abordagens, os prós e contras de cada dispositivo e as suas implicações técnicas e clínicas. No domínio da intervenção estrutural, abordaremos também as terapêuticas emergentes nas valvulopatias mitral e tricúspide.
A intervenção coronária será abordada sob o prisma das técnicas guiadas por imagiologia intracoronária e fisiologia, das lesões complexas e calcificadas e da progressiva adoção de estratégias de angioplastia sem implantação de stents permanentes.
Queremos, acima de tudo, que a reunião seja um reflexo do que de mais avançado se faz nesta área.
É já a 16.ª Reunião Anual da APIC. Em que é que se vai distinguir das anteriores?
JSM – A edição deste ano vai manter o ADN que caracteriza a APIC, mas com várias novidades. A começar pela localização, que se estreia no Porto, com todas as vantagens que já referi.
Pretendemos reforçar os laços internacionais e com a lusofonia, através da gravação e transmissão digital do programa científico para os países com uma grande comunidade de cardiologistas de intervenção como o Brasil. Estamos também a consolidar a distinção clara entre o programa científico, sustentado por patrocínios não direcionados, e o programa patrocinado pelas empresas — promovendo assim maior isenção e qualidade científica.
Outro elemento diferenciador será a aproximação entre cardiologistas de intervenção e investigadores de áreas como a engenharia biomédica, informática, inteligência artificial ou ciências dos materiais. Teremos uma sessão dedicada à inovação e ao empreendedorismo em saúde, preparando o terreno para, em 2026, lançarmos um prémio APIC de apoio ao desenvolvimento de projetos inovadores, num formato semelhante ao Shark Tank.
Esta reunião aposta na simulação, porquê? E como vai estar presente no programa?
JSM – A simulação é uma ferramenta educativa fundamental e já provou o seu valor em outras reuniões nacionais e internacionais. Como defensor convicto da simulação no treino e formação em Cardiologia de Intervenção, considero essencial que tenha um papel transversal na nossa reunião.
Estará presente em três vertentes:
• Cursos pré-congresso: com sessões práticas orientadas por simuladores para treino de técnicas específicas.
• Sessões científicas: recorrendo à simulação para demonstrar abordagens técnicas.
• Training Village: um espaço dedicado onde as empresas de simulação poderão demonstrar os seus equipamentos e onde a comissão científica organizará sessões focadas formativas em temas diversos.
Esta abordagem vai enriquecer a experiência formativa e permitir a familiarização com novas tecnologias num ambiente educativo e de partilha e conhecimento.
Quais as expectativas para esta 16.ª Reunião Anual da APIC?
JSM – As expectativas são naturalmente elevadas, mas o sucesso da reunião dependerá do empenho coletivo de todos os que integram a comunidade da Cardiologia de Intervenção. Queremos que, após a reunião, cada participante regresse à sua prática diária enriquecido com conhecimentos relevantes e aplicáveis, independentemente do seu grau de experiência ou área de atuação.
Pretendemos que esta reunião consolide o papel da APIC como o principal fórum nacional de discussão científica, partilha de boas práticas e construção de redes de colaboração. Ambicionamos ainda reforçar o posicionamento da Cardiologia de Intervenção portuguesa no panorama europeu e lusófono, criando pontes com parceiros internacionais e contribuindo para uma prática clínica cada vez mais diferenciada e orientada para melhores resultados nos nossos doentes.